Quinze pessoas foram presas, na terça-feira (28), pela Operação Peça Chave. Crimes foram praticados por pessoas ligadas à empresa responsável pela manutenção de veículos oficiais do governo estadual, conforme a Polícia Civil.
Uma das testemunhas da Operação Peça Chave, que prendeu 15 pessoas na terça-feira (28) em Curitiba e em Campos do Jordão (SP), disse ter sido ameaçada. A Polícia Civil do Paraná afirmou que, por essa razão, entre outras, determinou a prisão temporária dos investigados.
A operação apura crimes praticados, de acordo com a Polícia Civil, por pessoas ligadas à empresa JMK, responsável pela manutenção de veículos oficiais do governo estadual – como ambulâncias e carros policiais.
A testemunha afirmou, em depoimento, que foi ameaçada por um gerente da JMK quando o comunicou que faria a denúncia. O gerente disse, conforme o relato da testemunha, que ela não poderia agir daquela forma e que “não sabia com quem estava mexendo”.
Os delegados também pediram a prisão para interromper a prática de crimes e evitar que os investigados ocultassem o patrimônio ou combinassem versões para os fatos.
Fraude à licitação
A Polícia Civil listou outros crimes no pedido de prisão, como fraude à licitação. Ao ser escolhida para fazer a manutenção da frota oficial, em 2015, a JMK tinha dois sócios ocultos, segundo a polícia.
Aldo Marchini e Jairo Guimarães são apontados pela Polícia Civil como os verdadeiros donos da empresa. Contudo, no papel, consta Marcos Zanotto como proprietário da JMK. De acordo com a Polícia Civil, Zanotto era sócio minoritário, usado como “laranja”. Os três foram presos.
JMK é a empresa responsável pela manutenção dos veículos oficiais do governo estadual — Foto: Reprodução/RPC
Os investigadores analisaram conversas telefônicas em que Marchini e Guimarães se comportam como responsáveis. Além disso, dados do sigilo bancário revelaram quanto cada um recebeu da JMK.
A suspeita é de que Marchini recebeu mais de R$ 2,3 milhões da empresa. O salário era de R$ 10 mil, porém, mais de R$ 600 mil foram repassados da JMK para Marchini.
Superfaturamento
Para os delegados, houve ainda associação criminosa, falsificação de documento particular, fraude na execução do contrato e inserção de dados falsos no sistema.
O dono de uma das oficinas que consertava carros oficiais contou à polícia que foi advertido por funcionários da JMK que, se não superfaturasse o valor dos serviços, nenhum outro orçamento seria aprovado para a oficina mecânica dele. Ele detalhou que o superfaturamento era na ordem de 1000%.
A polícia citou um exemplo de superfaturamento. Em uma fornecedora da JMK, um limpador de para-brisa era vendido regularmente por R$ 47. Mas, o governo estadual pagava pela mesma peça R$ 132.
O cálculo da Polícia Civil é de que o Estado do Paraná pagava o dobro, o que causou um rombo de mais de R$ 125 milhões.
Outro dono de oficina disse à polícia que incluía orçamentos que jamais foram realizados, elevava arbitrariamente o valor dos orçamentos e que acrescentava peças que não que não eram usadas. Além disso, as peças eram cotadas como originais, mas as usadas eram de mercado paralelo.
A Polícia Civil afirmou que essa troca de peças foi encontrada em todos os carros periciados.
Lavagem de dinheiro
De acordo com a polícia, também houve lavagem de dinheiro. As investigações mostraram que os sócios recebiam recursos da JMK e transferiam valores para as contas de parentes ou de outras empresas de fachada.
A investigação começou em novembro de 2016, com notícia que chegou à polícia de que um veículo oficial da cidade de Reserva, nos Campos Gerais, tinha sido consertado pela JMK, mas o serviço foi pago pelo fundo rotativo da polícia.
Na terça-feira, além das prisões, houve a apreensão de 24 carros, sendo a maioria de luxo – como Porsche, Mercedes Benz e BMW, entre outros, conforme o delegado Guilherme Dias. Vinte e nove mandados de busca e apreensão também foram cumpridos.
De acordo com o delegado, os carros devem ir a leilão para ressarcimento dos danos causados aos cofres públicos e podem até ser transformado
Das 15 pessoas que foram detidas, uma foi liberada, de acordo com a polícia. Ela é nora de um dos sócios da JMK e está grávida de gêmeos. O delegado disse que vai pedir para que ela fique em casa e deponha na delegacia, quando for chamada.
Um dos carros de luxo apreendidos em condomínio perto do Parque Tingui, em Curitiba — Foto: Ana Zimermman/RPC
O que dizem os citados
Por meio de nota, a JMK informou que o sistema implantando entre a empresa e o estado conta com transparência e economia. Além disso, segundo a nota da JMK, antes, os serviços eram concentrados em 37 oficinas e que, agora, são 1.088 em todo o Paraná.
A empresa ainda afirmou que, ao longo do contrato, o governo economizou R$ 60 milhões. Também disse que vai apresentar documentos à Justiça que comprovam que sempre realizou o trabalho dentro da lei.
A defesa de Aldo Marchini não quis se manifestar. Os advogados de Jairo Guimarães e de Marcos Zanotto não retornaram o contato da RPC.
Nesta terça-feira (28), o diretor-geral da Secretaria de Estado da Administração e da Previdência (Seap), Bráulio Cesco Fleury afirmou que o contrato com a empresa venceu no dia 26 de janeiro e que foi prorrogado porque não havia tempo de fazer uma nova licitação antes de assumir a nova gestão.
“Não havia sido feito ainda o novo termo de referência para a contratação de uma nova empresa. Então, nós tivemos que prorrogar o contrato, porém, limitado a seis meses. Poderia ir por até um ano. Nós limitamos a seis meses para dar tempo de construir um novo edital de licitação. É um serviço muito técnico, que exige uma especificação técnica muito rígida para que os erros cometidos na licitação anterior não se repitam agora”, explicou Fleury.
G1