Kleber Mendonça Filho, diretor de ‘Aquarius’, esconde em um faroeste sua militante visão de um país vendido aos Estados Unidos. Novo longa do brasileiro estreia em Cannes
Quando em 2016 o brasileiro Kleber Mendonça Filho trouxe Aquarius a Cannes, ele e sua equipe aproveitaram o tapete vermelho para protestar contra a situação política no Brasil e o que descreveram como “golpe” contra a presidente Dilma Rousseff. “Sinto-me muito orgulhoso do que fiz na época”, recordou na manhã desta quinta-feira para a imprensa na apresentação de Bacurau, uma distopia extraordinária, um faroeste que se desenrola no sertão nordestino, um lugar do Brasil que raramente aparece no cinema.
Ali um grupo de norte-americanos se dedica alegremente a uma cinegética especial: a caça humana. O que não intuem é que os habitantes locais, ajudados por um alucinógeno, vão se erguer. Bacurau, uma cidade que na realidade não existe e uma palavra que se refere a um pássaro brasileiro, a alguém que sai sozinho à noite ou que tem pele negra, fala da rebelião contra as autoridades, da violência contra grupos LGBTI – um dos atores, o transexual Silvero Pereira, aproveitou a coletiva para enfatizar isso – e do crescente poder feminino. Como uma cebola, as camadas do filme vão do mero entretenimento ao drama político incisivo.
ElPaís