Apesar de ter sido condenado a cumprir pena em regime semiaberto, o ex-deputado nunca chegou a ser encarcerado
O acidente causado pelo ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho, que matou dois jovens no bairro Mossunguê, em Curitiba, completou 10 anos nesta terça-feira (7). Em fevereiro do ano passado, ele foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão por duplo homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar. Apesar disso, ele nunca chegou a ser encarcerado.
Como não há vagas no regime semiaberto, Carli Filho cumpre pena usando apenas tornozeleira eletrônica. Além disso, em dezembro de 2018, o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) reduziu a pena do ex-deputado para menos de oito anos de prisão.
Em 2016, Carli Filho quebrou o silêncio e postou um vídeo pedindo perdão às famílias das vítimas. (Foto: Reprodução)
Diante deste cenário, a deputada federal Christiane Yared, mãe de Gilmar Yared, uma das vítimas do acidente, avalia que o caso não teve o desfecho que ela esperava. “Foram 10 anos lutando incansavelmente, com a certeza de que a justiça viria em nosso favor. Mas o que ocorreu foi que, após o júri popular, que para a nossa família foi um segundo funeral, um novo recurso levou o caso para o Tribunal de Justiça. Lá, eu tive que ouvir de um dos desembargadores que o meu filho atravessou na frente do carro do ex-deputado”.
Segundo Yared, no entendimento do TJ, Carli Filho não teve a intenção de matar e, por isso, teve a punição reduzida. “Pois eu intervi e falei: ‘o meu filho não saiu com a intenção de morrer’. Essa luta deixa um gosto amargo na boca porque você grita, mas é difícil de engolir a história, sabe? Eu não fui a primeira mãe a enterrar um filho nessas condições e infelizmente não serei a última. Essas mortes acontecem todos os dias em uma quantidade assustadora”, completou.
“Certeza da impunidade”
Para Yared, o maior obstáculo para a punição de pessoas que cometeram crimes no trânsito é o sistema judiciário. “A lei prende e a justiça solta. O problema está em como os juízes veem essas situações. Quando você diz que uma pessoa embriagada, drogada, em alta velocidade e com a carteira suspensa, não tem intenção de matar, há sim a certeza da impunidade. O único motivo que me dá forças para continuar é saber que o trabalho que desenvolvo hoje pode salvar vidas, para que outras famílias sejam salvas e não passem pelo mesmo que a minha”, finalizou.
Acidente
Foram vítimas fatais do acidente Gilmar Rafael Souza Yared e Carlos Murilo de Almeida. Eles morreram na hora. Na ocasião, Carli Filho estava embriagado e dirigia com a carteira de habilitação cassada.
A reconstituição apontou que o carro do ex-deputado decolou ao menos 10 metros antes de bater contra o veículo das vítimas. O automóvel de Carli Filho estaria a cerca de 160 a 170 km/h, segundo laudo pericial.
BandaB