Em busca de novo ‘milagre’ contra a Covid-19, curitibanos quase acabam com estoque de vacina Tríplice Viral

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Depois da corrida por cloroquina e invermectina, agora o alvo é a MMR (Foto: Franklin de Freitas)

Após a informação de que tríplice viral, conhecida como MMR, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, pode minimizar os riscos de complicações da Covid-19 se espalhar nas redes sociais, os curitibanos correram para as clínicas de vacinação e já há risco de falta do imunizante. Especialistas consultados pelo Bem Paraná e a própria Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que faz a pesquisa sobre o uso da vacina tríplice viral ainda em fase preliminar, alertam, no entanto, que não há comprovação nenhuma ainda da eficácia e falam sobre riscos.

O Frischmann Aisengart registrou um aumento de 300% na procura da vacina tríplice viral nesta semana. Segundo Myrna Campagnoli, diretora médica do Frischmann Aisengart, se a demanda continuar, o laboratório tem estoque para apenas duas semanas. “Essa vacina tem vírus vivo, então há várias contraindicações que precisam ser verificadas. Gestantes não podem tomar, pacientes que tomam alguns remédios de uso contínuo, como corticoides, pacientes com câncer. Nós explicamos também aos pacientes que não há nenhuma comprovação do uso deste imunizante contra a Covid-19, alertamos dos riscos e que eles devem discutir com os médicos essa decisão antes de receber a vacina”, disse a médica à reportagem do Bem Paraná. Ela ressaltou que estudos da UFSC são muito preliminares ainda e que não há nenhuma comprovação científica ainda que justifique o uso da tríplice viral para coronavírus: “É preciso cautela e muita informação. Não existe cruzamento de vírus, ou seja, a vacina contra sarampo não protege contra tuberculose e nem contra a covid-19. Hoje o que temos sobre o coronavírus, é a vacina específica para ele e as medidas de distanciamento e higiene”. Nas clínicas de vacinação particulares, a Tríplice Viral é aplicada em três doses na infância e uma dose para adultos.

Na Clínica Vaccine, em Curitiba, a procura foi tão grande que o estoque da vacina acabou em uma manhã de ontem e não há previsão da chegada de novos lotes. “Nosso telefone não para de tocar com pessoas desesperadas em busca desta vacina. Já fomos atrás dos fornecedores e está difícil repor o estoque. Vemos nas pessoas o mesmo efeito da cloroquina e da ivermectina, uma esperança, mas é preciso cuidado”, contou Renata Gonçalves de Quadros, enfermeira especialista em vacinas da Vaccine.

A vacina Tríplice (Sarampo, Caxumba, Rubéola) consta no calendário de vacinação disponível na rede de saúde de Curitiba em um dose aos 12 meses e mais uma dose na vida adulta. Até ontem, a Prefeitura de Curitiba ainda não tinha dados sobre o aumento da procura do imunizante na rede pública de saúde.

Informe oficial

Universidade alerta que pessoas não se vacinem porque estudo ainda não acabou

Diante da enorme repercussão, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis emitiram ontem uma nota de esclarecimento sobre pesquisa “Eficácia da Vacina MMR na Prevenção ou Redução da Severidade da COVID-19”. Na nota, as entidades alertam que apesar das respostas animadoras, ainda há etapas fundamentais para que a iniciativa seja aprovada e validade para uso da população. “. Na fase atual, há respostas animadoras mas que ainda dependem de etapas fundamentais para que venha a ser aprovada e validada, para ser utilizada junto à população. “A UFSC e a Secretaria Municipal de Saúde alertam para que não haja qualquer movimento de procura junto a postos de saúde e nem autorizam ou recomendam a procura em clínicas privadas, uma vez que, caso haja a definição por seu uso em meio à Pandemia da COVID-19, haverá campanhas oficiais dos órgãos sanitários no sentido de orientar devidamente a população sobre grupos, datas e locais de acesso”, diz a nota.

A nota ainda explica que não se trata de imunizante equivalente àqueles voltados à vacinação preventiva contra o Coronavírus, produzidos por exemplo, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Butantan e que não se configura como “tratamento precoce” da doença, do mesmo modo como alguns medicamentos são divulgados, sem contudo terem sua eficácia cientificamente comprovada, se referindo claramente à cloroquina e a ivermectina. “Trata-se de uma pesquisa preliminar, iniciada em 2020, a partir do uso de imunizante constante do calendário regular de vacinação, a Vacina Tríplice Viral (MMR), que, por ora, demonstra resultados animadores, na estimulação da imunidade inata, com possibilidade de prevenir a infecção pelo novo Coronavírus ou diminuir sua severidade por diminuição da carga viral”, explica a nota de esclarecimento, que termina com a frase “Não se deixe levar por notícias falsas ou promessas de tratamento.”.

Disseminação

Como novo ‘milagre’ da pandemia viralizou em um dia

A noticia de que a tríplice viral poderia proteger os cidadãos contra a Covid-19 ganhou força após o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM-SC), cogitar precocemente na terça-feira a possibilidade usar o imunizante no combate à Covid-19 com base no estudo de um grupo de professores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), “A nossa equipe técnica está analisando a pesquisa. Há possibilidade real de usarmos nas próximas semanas”, afirmou ele, em post publicado nas redes sociais. O prefeito disse, inclusive, que os resultados da pesquisa com a vacina indicam uma eficácia de 76% contra internação hospitalar e 42% contra os sintomas, e ajudaria a reduzir a carga viral. A ideia do chefe de Loureiro seria utilizar o imunizante em grupos não prioritários, maiores de 18 anos.

O médico Edison Natal Fedrizzi, que coordena a pesquisa, também deu várias entrevistas a veículos de comunicação de Santa Catarina, sobre o encerramento da primeira fase de estudos, que acabou no mês passado. “Vamos enviar um parecer para o Estado com os resultados. É uma análise interina, mas os números finais indicam que 76% do grupo que recebeu essa vacina não será internado em hospitais.”

Bem Paraná

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