Médico diz ter vivido pior plantão da pandemia com entubações: ‘Pacientes fizeram videochamadas para dar um até logo’

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Médico alertou para falta de vagas e disse que pacientes têm chegado graves em Pronto Atendimento. — Foto: Arquivo Pessoal

O médico Luzo Dantas Neto, que trabalha em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, diz ter vivido o pior plantão da pandemia do novo coronavírus entre terça-feira (2) e quarta-feira (3). Mal sabia ele, que o dia seria véspera de um novo recorde no Paraná.

Nesta quinta-feira (4), são 811 pessoas com Covid-19 na fila de espera por um leito de hospital. Ao todo, 330 pessoas esperam por um leito de UTI e 481 de enfermaria, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).

O médico afirmou que precisou entubar um número atípico de pacientes.

“Foi muito triste, porque tivemos que ver pessoas que estavam bem, conscientes, falando, mas com uma saturação muito baixa e que precisaram ser entubadas. Muitos destes pacientes fizeram videochamadas com familiares para avisar a situação e dar um até logo, porque, sim, esperamos que seja um até logo”.

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Em Curitiba e região metropolitana, a fila é de 233 pessoas, 82 delas esperando por uma vaga em UTIs e 151 em enfermarias.

“Foi o pior dia que vivenciei nessa pandemia. Um dia muito atípico. Tive que fazer várias coisas diferentes. Foi uma madrugada intensa e na manhã seguinte continuou da mesma forma”, desabafou o médico.

Segundo Luzo, na madrugada, as equipes precisaram entubar vários pacientes para manter a vida destas pessoas. “Foi muito longo o plantão, não parava de chegar paciente grave, saturando mal, com pouco oxigênio, com falta de ar, que precisava de cuidado mais intenso”.

Atuando na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Colombo, que não tem mais capacidade para tanta gente, o médico disse que, dos 28 pacientes que atendeu, sete precisaram ser entubados.

“Não temos mais vagas para pacientes nas UTIs e nem nas enfermarias. É muito difícil sair. Um colega meu que trabalha na central de leitos médicos de Curitiba me falou que temos hoje 80 pacientes esperando leito em UTI, sendo que a maior quantidade de pacientes que ele já tinha visto antes da pandemia era de 20. Estamos quatro vezes a mais do que já poderíamos estar”.

Profissionais da saúde alertam para colapso. — Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Profissionais da saúde alertam para colapso. — Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Tratamento precoce não resolve

Entre os pacientes que chegaram à UPA de Colombo, Luzo atendeu quem tentou se tratar de alguma forma. “Temos visto pacientes que estão usando ivermectina, azitromicina, cloroquina, todos sendo internados”.

Alguns destes pacientes, estão ficando graves.

“As pessoas estão indo para o tubo. Independente do tratamento que estejam fazendo ou não, estas pessoas estão ficando cada vez piores ou mais graves”.

A maior lição que as equipes que estão lidando com a Covid-19 conseguem tirar, neste momento, conforme o médico, é a importância de mantermos as orientações tão faladas ao longo do último ano.

“As pessoas vão ter que ficar cada vez mais isoladas e evitar o contato com outras pessoas, porque o vírus se propaga nisso aí, no contato de pessoa para pessoa”.

Paraná atingiu número recorde da espera por vagas de leitos para Covid-19. — Foto: Aria Dias/AEN

Paraná atingiu número recorde da espera por vagas de leitos para Covid-19. — Foto: Aria Dias/AEN

Não tem vaga

Como forma de alertar, o médico reforçou o aviso de que não há vagas.

“Fiquem conscientes disso. Não tem vaga aqui na RMC e provavelmente não tenha vaga em muitos lugares do país. Muita gente pode morrer por nem ter acesso a um primeiro atendimento e isso pode prejudicar até mesmo quem não está com Covid-19”.

Com uma voz esgotada, Luzo pediu que as pessoas se cuidem ao máximo neste momento. “Evitem contato com outras pessoas, porque tem muita gente infectada, muita gente doente, muitas pessoas que nem sabem que estão com o vírus e acabam infectando outras pessoas”.

G1PR

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