sexta-feira, abril 19, 2024

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Lava Jato investiga contratos do Banco Paulista que somam R$ 280 milhões

Banco foi alvo da 61ª fase da Operação Lava Jato por suspeita de lavagem de dinheiro de R$ 48 milhões oriundos da Odebrecht.

A força-tarefa da Lava Jato afirmou nesta quarta-feira (8) que, além dos R$ 48 milhões movimentados pelo Banco Paulista, oriundos de lavagem de dinheiro em favor de executivos da Odebrecht, outros R$ 280 milhões transferidos pelo banco a outras dez empresas também são investigados.

Os procuradores do MPF informaram que as operações realizadas para movimentar estes R$ 280 milhões são semelhantes aos repasses de R$ 48 milhões em contratos falsos com a Odebrecht (veja abaixo como funcionava o esquema).

Estas movimentações são investigadas na 61ª fase da Lava Jato, deflagrada na manhã desta terça-feira (8).

Segundo o MPF, as empresas emitiam notas fiscais pela operação de importação de moedas, mas o serviço não era prestado pelo Banco Paulista.

Parte dos 41 mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal nesta fase aconteceu nas sedes e nas casas dos sócios destas empresas. “Com o resultado destes mandados, nós vamos entender se estas empresas operavam neste esquema junto à Odebrecht ou não”, afirmou o procurador da República, Júlio Motta Noronha.

Segundo o delegado da Polícia Federal Alessandro Netto Vieira, a maior parte das empresas funcionava de fachada para movimentar o dinheiro. “De dez empresas, seis simplesmente não existiam fisicamente. Outras duas apresentaram situação precária, incompatível com a quantia que movimentaram”, afirmou.

De acordo com o delegado, uma das empresas é investigada pela importação de cerca de R$ 100 milhões em moedas estrangeiras, mas tinha como sede “um sobradinho no subúrbio carioca”, por exemplo.

Os R$ 280 milhões investigados foram movimentados entre 2010 e 2017, de acordo com o MPF.

Esta é a primeira fase da Lava Jato que tem uma instituição bancária como alvo.

Em nota, o Banco Paulista informou que a área de câmbio da empresa foi surpreendida com a operação PF em sua sede, e que está colaborando com as autoridades e retomando suas operações regulares.

Três presos

Três executivos do Banco Paulista foram presos preventivamente na manhã desta terça-feira. Paulo Cesar Haenel Pereira Barreto, funcionário da mesa de câmbio do banco, Tarcísio Rodrigues Joaquim, diretor da área de câmbio, e Gerson Luiz Mendes de Brito, diretor-geral.

De acordo com o MPF, eles assinaram R$ 48 milhões em contratos de fachada com empresas ligadas a executivos do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, como era chamado o setor de propinas da empreiteira.

A força-tarefa ainda investiga se estes valores foram pagos como comissão aos funcionários da empreiteira pelas operações de propina ou se tinham outros agentes como destinatários.

G1 tenta contato com as defesas dos funcionários do banco que foram presos.

Investigações

A PF informou que as investigações começaram a partir de depoimentos e colaborações administradores de uma instituição financeira no exterior. Essa instituição ocultava capitais em operações criminosas em favor do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht.

O Ministério Público Federal diz que identificou os contatos de Paulo Barreto, do Banco Paulista, sob codinome “Lance”, com esse departamento da Odebrecht, feitos por meio do sistema de comunicação criptografado da Odebrecht (sistema “Drousys”). Barreto mantinha contas no exterior em nome de offshores para receber valores de origem ilícita do Grupo Odebrecht, dizem os investigadores da Lava Jato.

Ainda segundo o MPF, Tarcísio Joaquim e Gerson de Brito assinaram, durante 4 anos, contratos falsos celebrados com as empresas dos sócios do Meinl Bank Ltd. (Antígua, no Caribe), que foram usados para lastrear os pagamentos. Esse banco tinha contas abertas pelo Grupo Odebrecht para movimentações ilícitas de dinheiro.

Entenda o caminho do dinheiro, de acordo com o MPF:

  • A Odebrecht fazia depósitos em moeda estrangeira em contas no Meinl Bank, no Caribe, que estava no nome de offshores e eram controladas por operadores de propina da empreiteira
  • O Meinl Bank, conhecido como “banco de propina”, tinha como sócios seis pessoas, que hoje são delatores da Lava Jato: Luiz Eduardo da Rocha Soares, Olívio Rodrigues Junior, Fernando Migliaccio da Silva, Vinícius Borin, Marco Pereira de Souza Bilinski e Luiz Augusto França
  • Doleiros traziam o dinheiro para o Brasil e encaminhavam, em espécie, ao Banco Paulista
  • No Brasil, o banco assinava contratos de fachada com consultorias financeiras controladas por pessoas de confiança da Odebrecht – as mesmas que eram sócias do Meinl Bank
  • A Receita Federal apurou que essas consultorias não tinham funcionários e que 99% do seu faturamento vinham do Banco Paulista
  • Os contratos serviam para lastrear o dinheiro, ou seja, dar a aparência de legalidade.

Disfarces de Mamom

Esta fase da Lava Jato foi batizada de “Disfarces de Mamom” e remete à uma passagem bíblica: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”.

Este nome foi dado porque, de acordo com a PF, a instituição bancária deveria cuidar do sistema financeiro, porém, permitia atividades ilícitas.

G1

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