Terceira edição da Prova Paraná dos ensinos fundamental e médio, sobre Língua Portuguesa e Matemática, foi aplicada nas escolas das redes estadual e municipal; confira os resultados.
A terceira edição da Prova Paraná, que mede o aprendizado nas escolas estaduais, indicou dificuldade dos estudantes para identificar o tema de um texto e para resolver problema envolvendo o cálculo de área de figuras planas.
Conforme o resultado, por exemplo, apenas 16% dos alunos do 7º ano do ensino fundamental conseguiram acertar essas duas questões. Confira mais resultados abaixo.
A avaliação sobre as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática foi aplicada em todas as escolas das redes estadual e municipal.
Participaram mais de 900 mil estudantes, do 5º ao 9º do ensino fundamental, da 1ª à 4ª série do ensino médio, e alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) fase II e ensino médio.
O levantamento foi realizado em setembro deste ano e divulgado pela Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná (Seed) em novembro. De acordo com a Seed, o percentual de acerto é referente ao número de alunos daquela série/ano que responderam a avaliação.
Questões de Língua Portuguesa
Números mais baixos:
- 18% dos alunos do 8º ano conseguiram identificar a finalidade de textos de diferentes gênero.
- 18% dos alunos da 3ª e 4ª séries acertaram a questão sobre estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la.
- 28% dos alunos da 2ª série conseguiram identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.
- 28% dos alunos da 1ª série conseguiram identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.
- 37% dos alunos do 9º ano identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados.
Números mais altos:
- 88% dos estudantes da 1ª série reconheceram o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações.
- 88% dos estudantes do 9º ano conseguiram interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso, como propagandas, quadrinhos, foto.
- 89% dos estudantes da 2ª série conseguiram localizar informações explícitas em um texto.
- 89% dos alunos da 3ª/ 4ª série localizaram informações explícitas em um texto.
- 86% dos estudantes do 6º ano identificaram efeitos de ironia ou humor em textos variados.
Questões de Matemática
Números mais baixos:
- 6% dos alunos do 9º ano conseguiram identificar relação entre quadriláteros por meio de suas propriedades.
- 6% dos estudantes da 1ª série reconheceram o gráfico de uma função polinomial de 1º grau por meio de seus coeficientes.
- 7% dos alunos da 2ª série conseguiram reconhecer o gráfico de uma função polinomial de 1º grau por meio de seus coeficientes.
- 12% dos alunos da 3ª/ 4ª série relacionaram as raízes de um polinômio com sua decomposição em fatores do 1º grau.
- 15% dos alunos do 6º ano conseguiram identificar diferentes representações de um mesmo número racional.
Números mais altos:
- 85% dos estudantes do 6º ano conseguiram calcular o resultado de uma adição ou subtração de números naturais.
- 86% dos alunos da 3ª e 4ª série associaram informações apresentadas em listas e/ou tabelas simples aos gráficos que as representam e vice-versa.
- 81% dos alunos do 9º ano conseguiram identificar a localização de números inteiros na reta numérica.
- 85% dos estudantes da 1ª série associaram informações apresentadas em listas e/ou tabelas simples aos gráficos que as representam e vice-versa.
- 89% dos alunos do 5º ano conseguiram identificar propriedades comuns e diferenças entre figuras bidimensionais pelo número de lados, pelos tipos de ângulos.
Prova Paraná foi aplicada em todas as escolas das redes estadual e municipal — Foto: Divulgação/SEED
Avaliações sobre a prova
O G1 conversou com duas professoras da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que analisaram os resultados da terceira edição da prova.
Ambas afirmam que o problema das avaliações em larga escala é que elas são feitas à revelia do que a escola, de fato, ensinou.
“Pressupondo que todas as escolas ensinam as mesmas coisas, do mesmo jeito, no mesmo tempo. E isso não é verdade, porque as escolas têm ritmos diferentes e os estudantes também. Essa padronização é inexistente. Não mostram o que os alunos aprenderam, mas sim o que a prova perguntou”, disse Mônica Ribeiro da Silva, também pesquisadora em políticas educacionais e coordenadora do Observatório de Ensino Médio.
A outra docente, Maria Tereza Carneiro Soares, que também é mestra e doutora em educação, disse que, atualmente, existe bastante complexidade tanto na formação de professores quanto nas condições de trabalho na escola, e isso pode “respingar” nos resultados de avaliações sobre o conhecimentos dos estudantes.
“Muitas vezes, os estudantes não conseguem ver a relação com o que aprendem na escola com o que aplicam em seu cotidiano. Na hora do teste, o modo como a questão é feita, pode impossibilitar ou confundir”, explicou Maria Tereza.
Segundo elas, é comum que, realmente, as dificuldades apareçam muito mais fortes em interpretação, embora as escolas tenham investido em leitura e em letramento. Além disso, as professoras consideram difícil avaliar os números da forma em que é colocado pela secretaria.
“É muito raso, pois o desempenho dos estudantes é fruto de uma série de fatores, incluindo o que a escola fez. Não é apenas o desempenho dos alunos que servem para fazer a avaliação da educação, explicou a professora Mônica.
Na avaliação dela, é necessário fazer outros testes acerca das condições de ensino para saber quais políticas seriam efetivas.
Conforme a Secretaria de Educação do Paraná, a Prova Paraná não é, exatamente, uma avaliação para medir o conhecimento dos estudantes do estado, e sim para apontar quais são os conteúdos em que há mais dificuldade de aprendizado.
“O objetivo é oferecer subsídios sobre o aprendizado de cada aluno”, informou a secretaria.
Entenda a prova
A prova é impressa pela Seed e distribuída para todas as escolas estaduais e para as escolas municipais de cidades que aderiram ao programa, gratuitamente. O aluno tem duas horas para realizar a prova.
3ª edição da Prova Paraná — Foto: Arte/G1
“A 3ª edição teve novo recorde de participação e isso, na avaliação da secretaria, mostra como a prova, enquanto instrumento pedagógico de diagnóstico da aprendizagem, tem sido aprimorada edição após edição, com as contribuições de toda a rede, como sugestões, críticas e elogios”, segundo a Seed.
Para 2020, a secretaria afirmou que os desafios serão para aprimorar a ferramenta e o trabalho que é realizado após a prova, considerado o mais importante.
“O trabalho pedagógico realizado a partir dos resultados, para ajudar os estudantes a aprenderem mais, a superarem suas dificuldades. Todas as ações são pensadas tendo em vista a meta de garantir a melhor aprendizagem aos alunos, seu pleno desenvolvimento”, conforme a secretaria.
Para a professora Mônica, a prova é um cenário geral do sistema, mas ela não pode ser uma medida isolada.
“Deve ter um conjunto de políticas para melhorar a qualidade da educação, os salários dos professores e funcionários, condições de trabalho e materiais didáticos também”, comentou ela.
Esta edição da prova foi realizada em todos os municípios do estado — Foto: Divulgação/SEED
Melhorias
A intenção da secretaria é que, após a correção dos testes, os professores e demais profissionais da educação tendo as informações mais aprofundadas sobre as dificuldades dos alunos, consigam desenvolver estratégias pedagógicas e de ensino mais adequadas para superar as dificuldades.
A secretaria desenvolve o programa “Tutoria Pedagógica”, que é uma das frentes de ação da pasta junto aos Núcleos Regionais de Ensino e às escolas a partir dos resultados.
“Um tutor acompanha a escola, dá apoio ao diretor e professores para fazer a análise dos resultados e pensar em atividades que ataquem as dificuldades. A secretaria também disponibiliza listas de questões direcionadas para o desenvolvimento do aprendizado dos conhecimentos abordados na prova”, explicou a secretaria.
A Seed afirmou que auxilia a planejar ações e estratégias para superar as defasagens de aprendizagem relacionadas às habilidades cognitivas avaliadas com menor número de acertos na prova.
“Como, por exemplo, monitoria entre estudantes, aulas de reforço, nivelamento, resolver a prova com os estudantes e retomar cada questão”, informou.
Além disso, as escolas têm autonomia para desenvolver projetos e ações pedagógicas próprias a partir dos resultados, o que acontece na grande maioria das escolas, segundo a Seed.
“Temos escolas em que há professores que gravam vídeos sobre os descritores, por exemplo”, disse a secretaria.
A professora Maria Tereza afirmou que todas as iniciativas que buscam uma participação maior do professor, da família, tendo como foco o aluno, são interessantes.
“É essencial o papel do professor na interpretação desses resultados para que realmente surjam resultados positivos”, concluiu.
Após a correção dos testes, professores conseguem desenvolver estratégias mais adequadas para superar as dificuldades dos alunos — Foto: Natalia Filippin/G1
G1PR