quinta-feira, abril 25, 2024

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31 de Março: São Paulo tem 32 logradouros em homenagem ao golpe militar de 64

Levantamento do G1 reúne 132 locais, entre ruas, avenidas, praças e viadutos espalhados pelo Brasil. Na capital, movimento conseguiu alteração de sete endereços com nomes de militares.

Irani Gomes da Silva visita o pai há 40 anos na Vila Garcia, em Votorantim (SP). No trajeto, o morador da capital passa pela Avenida 31 de Março, principal acesso ao município, mesmo sem ter ideia do contexto histórico que levou ao “batismo” da via. Em todo o estado são 32 logradouros que homenageiam o golpe militar de 1964.

A data, marcada pelo início da ditadura, completa 55 anos neste domingo. Na época, após o ato, o país viveu 21 anos sem eleição direta para presidente e o Congresso Nacional chegou a ser fechado, com mandatos cassados.

G1 fez um levantamento e mostra que no Brasil há 132 logradouros, como avenidas, ruas, travessas, praças e viadutos, batizados em homenagem à ditadura militar, em estados que vão desde Santa Catarina até o Acre. Em Manaus, por exemplo, há o Beco 31 de Março, a Rua 31 de Março e a Rua 31 de Março II.

Os dados, confirmados pelos Correios, incluem tanto os nomes em numeral (31 de março) quanto por extenso (trinta e um de março).

Em 2018, o viaduto 31 de Março, no Brás, em São Paulo, passou a se chamar Therezinha Zerbini. A mudança foi feita pelo Projeto de Lei (PL) 196/2017. O novo nome é da fundadora do Movimento Feminino pela Anistia (MFPA).

Segundo a Prefeitura de São Paulo, a cidade chegou a ter 23 logradouros que homenageavam pessoas consideradas, pela administração passada, violadoras de Direitos Humanos na ditadura militar. Sete deles foram alterados.

A administração municipal também afirma que a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania não tem o registro de todas as alterações, mas possui os números dos projetos tramitados na Câmara.

Os logradouros mudados ficam em Moema, Lapa, Vila Amélia, Itaim Bibi, Grajaú, Vila Leopoldina e Liberdade.

Avenida 31 de Março, no Centro de Votorantim — Foto: Carlos Dias/G1

Avenida 31 de Março, no Centro de Votorantim — Foto: Carlos Dias/G1

Rua do Comércio ou Avenida 31 de Março?

Citada no início da reportagem, Votorantim tem uma população estimada de 121.331 moradores, segundo o IBGE, e 1.200 ruas e avenidas, conforme a prefeitura.

Ao G1, o historiador Cesar Silva lembra que, antes da denominação relacionada à ditadura, a via chamava-se Rua do Comércio.

“Era estreita e de terra, posteriormente ganhou paralelepípedos. Com a emancipação e instalação da cidade, no fim dos anos 60 e início dos anos 70, foi revitalizada e duplicada. Era preciso uma nova denominação”, lembra.

De acordo com Silva, a prefeitura era comandada por Luiz do Patrocino Fernandes. Com a aprovação da Câmara, houve a oficialização da lei número 189, que alterou para o atual nome.

“Vereadores da época alegaram que havia pressão de instâncias maiores. O que ocorreu foi amenizar a pressão optando por uma saudação ao regime militar”, explica.

A entrega foi feita em 8 de dezembro de 1971 como parte da programação de aniversário de Votorantim. O historiador defende a mudança do nome para cidadãos da cidade com relevância histórica.

No entanto, um comerciante, que preferiu não se identificar, disse em poucas palavras que não se incomoda com a nomenclatura.

Cesar Silva é historiador em Votorantim — Foto: Carlos Dias/G1

Cesar Silva é historiador em Votorantim — Foto: Carlos Dias/G1

A Câmara informou que para o “batismo” de uma rua é preciso um projeto de lei de iniciativa de um vereador, que deve apresentar justifica plausível para a sugestão. Em 2018, foram apresentados 10 projetos para denominação de vias públicas e todos foram aprovados.

Ainda segundo a Câmara, não é permitida em Votorantim, pela Lei Orgânica, no Artigo 104, parágrafo 1º, “a alteração posterior de denominação de próprio municipal”.

Para o sociólogo da Universidade de Sorocaba (Uniso) Vidal Dias da Mota Júnior, em caso de alteração, as pessoas devem ser informadas e estar a par sobre o motivo e a relevância.

“O aspecto de existir o movimento que até contesta é uma forma de trabalhar a memória do Brasil. Não é interessante apagar a história com uma possível troca de nomes de ruas, mas deve ser explicado o porquê e as pessoas devem entender. A democracia é um exercício permanente e o contexto histórico era outro.”

Rua do Comércio, em Votorantim, em 1964 — Foto: Cesar Silva/Arquivo pessoal

Rua do Comércio, em Votorantim, em 1964 — Foto: Cesar Silva/Arquivo pessoal

G1

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