sexta-feira, novembro 14, 2025

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O puerpério e as sombras emocionais: baby blues, depressão pós-parto e o poder da amamentação

Por Aressa Henrique

O nascimento de um filho é, sem dúvida, um dos momentos mais transformadores e intensos na vida de uma mulher. A chegada de um bebê desperta sentimentos profundos de amor, esperança e recomeço — mas também inaugura um período de grande vulnerabilidade emocional e física. O chamado puerpério, ou pós-parto, é marcado por uma verdadeira tempestade hormonal e pela necessidade de adaptação a uma nova rotina, que exige da mulher um equilíbrio delicado entre o físico e o emocional.

Nesse contexto, surgem com frequência as chamadas desordens emocionais do pós-parto, entre as quais o baby blues e a depressão pós-parto (DPP) merecem atenção especial. Embora muitas vezes confundidas, são condições distintas, com intensidades e implicações diferentes.

O baby blues, conhecido também como “tristeza materna”, é uma resposta quase universal às mudanças que o corpo e a mente enfrentam logo após o parto. Estudos indicam que cerca de 80% a 90% das mulheres vivenciam esse estado emocional, que costuma aparecer entre o terceiro e o quinto dia após o nascimento do bebê — justamente quando ocorre a queda brusca dos níveis de estrogênio e progesterona e a descida do leite. É comum que a mãe sinta vontade de chorar sem motivo aparente, tenha oscilações de humor, irritabilidade, ansiedade leve e dificuldade para dormir. Apesar de desconfortável, o baby blues tende a desaparecer espontaneamente em duas ou três semanas, sem comprometer o cuidado materno. É um processo de adaptação natural, que melhora com o apoio familiar, descanso e acolhimento emocional.

A depressão pós-parto, por outro lado, é uma condição mais grave e persistente, que requer acompanhamento profissional. Trata-se de um transtorno de humor que pode surgir em qualquer momento durante o primeiro ano após o parto, mas geralmente se manifesta nas primeiras semanas. No Brasil, estima-se que cerca de 25% das mães enfrentem a DPP entre seis e dezoito meses após o nascimento do bebê — um número alarmante quando consideramos o impacto que essa condição causa na qualidade de vida da mulher e no vínculo com o filho.

Os sintomas da depressão pós-parto são semelhantes aos de uma depressão clínica: tristeza profunda e contínua, desesperança, perda de prazer nas atividades cotidianas, alterações de apetite e sono, fadiga extrema, sentimentos de culpa e, em casos mais severos, pensamentos de morte ou de ferir o bebê. A diferença fundamental entre a DPP e o baby blues está na intensidade e duração dos sintomas. Enquanto o primeiro é autolimitado, a depressão pós-parto interfere diretamente na capacidade da mulher de cuidar de si e de seu bebê, sendo indispensável o diagnóstico e o tratamento com psicólogos e psiquiatras.

Em meio a esse turbilhão emocional, a amamentação surge como um importante fator protetor. Longe de ser apenas uma prática nutricional, ela é um processo biológico e afetivo profundamente conectado à saúde mental materna. A sucção do bebê estimula a liberação de ocitocina, conhecida como o “hormônio do amor”, que favorece o relaxamento, reduz a ansiedade e fortalece o vínculo entre mãe e filho. Além disso, a lactação diminui a resposta fisiológica ao estresse e reduz os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, conferindo à mãe maior equilíbrio emocional.

Mesmo diante de noites mal dormidas, a amamentação pode contribuir para um padrão de sono mais restaurador, graças à ação combinada da ocitocina e da prolactina, que induzem calma e bem-estar. Outro fator relevante é o fortalecimento da autoeficácia materna — a sensação de competência e segurança em cuidar do bebê —, o que atua como um verdadeiro escudo contra a depressão.

Diversos estudos reforçam essa relação positiva. Pesquisas apontam que mães que não iniciam a amamentação ou a interrompem precocemente estão mais propensas à depressão pós-parto. Da mesma forma, mulheres com sintomas depressivos tendem a ter mais dificuldades na amamentação, o que demonstra o caráter bidirecional dessa conexão. Quando a amamentação é desejada e bem-sucedida, ela se torna uma aliada poderosa na recuperação emocional e no fortalecimento do vínculo afetivo.

Portanto, embora o baby blues seja quase universal e passageiro, a depressão pós-parto é um problema de saúde pública que merece atenção urgente. É essencial que as mães recebam apoio integral — emocional, familiar e profissional — para reconhecer os sinais de alerta e buscar ajuda sem culpa ou medo. A amamentação, nesse cenário, é muito mais do que um gesto de nutrição: é um ato de amor que cura, protege e conecta mãe e filho de forma profunda e transformadora.


💬 Sobre a autora


Aressa Henrique é consultora especializada em amamentação, com 15 anos de experiência na área materno-infantil. Pós-graduada em Aleitamento Materno e com abordagem humanizada, oferece atendimentos personalizados voltados à amamentação, desmame, laserterapia, taping e furinho humanizado. Já acompanhou mais de mil famílias em suas jornadas, transformando desafios em experiências de amor e confiança.


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